Quero ser wikipedista
Sou nascido em uma época pré-digital: em outras palavras, anterior à internet. O primeiro computador que meus pais compraram foi um HotBit HB-8000, de arquitetura MSX, compatível com fita cassete e com drive para disquete de 5¼ polegadas externo, em algum momento posterior a 1985.
Compatível com o que se esperava da década de 1980, meus trabalhos da escola, portanto, eram todos feitos em papel almaço pautado, escritos à mão, e requeriam pesquisa em enciclopédias. Em casa tínhamos a Enciclopédia do Estudante, da Abril Cultural, em 5 volumes, com atlas no último deles; minha mãe também encomendava e comprava, com o jornaleiro da banca de revistas mais próxima de casa, semanalmente, fascículos que eu ia buscar, e que posteriormente compuseram a coleção Conhecer Atual, da Nova Cultural, que mandamos encadernar quando foi concluída. Eu nunca tive em casa obras como a Barsa, ou a Mirador, gigantes enciclopédicos daquele tempo: se precisasse consultá-los, no entanto, eu era abençoado, por morar, literalmente, a uma quadra da biblioteca municipal. Ah, e também tínhamos em casa edições do Almanaque Abril, “a enciclopédia em um volume”, publicadas anualmente: uma das que mais me vem à memória é a de 1989, com a foto do deputado Ulysses Guimarães na capa.
O tempo passou, e os computadores se modernizaram. Em casa, no começo da década de 1990, se não me engano, me lembro que compramos um CD-ROM da Encarta, enciclopédia da Microsoft, e eu ficava maravilhado de ver como era simples pesquisar digitando e dando enter, sem precisar folhear atrás das informações em cada um dos volumes de papel.
Fato é, de papel, ou em CD-ROM, sempre fui fascinado por enciclopédias. Além dos trabalhos escolares que me faziam pesquisar coisas nelas, eu costumava pegar os volumes e folhear, procurando conhecimentos novos. Talvez lhe pareça coisa de doido, mas eu amava fazer isso. Acho que eu sempre fui um bibliófilo — e posteriormente, esse hábito se transformou em outra coisa que eu amo, que é navegar à esmo na Wikipédia: eu literalmente me perco, e adoro.
E falando em Wikipédia, eu sempre tive vontade de contribuir com o site, me juntando aos inúmeros voluntários anônimos que editam conteúdo diariamente. Desde a época em que fui professor de inglês, quando a internet ainda engatinhava no Brasil, acabei criando pra mim a crença de que compartilhar nosso conhecimento é, por natureza, um ato de gentileza, um ato de bondade.
Eu queria me tornar um wikipedista — termo em português para wikipedian, que é como são chamados os editores voluntários do site. Então, em 29 de novembro de 2023, criei minha conta no site. Fiz três edições mínimas em artigos na versão em português, para pegar o jeito, no mesmo dia.
Daí fui pego pela rotina e não editei mais.
Uma das pessoas que eu sigo de algum tempo pra cá é a Molly White. A Molly é engenheira de software e escreve sobre tecnologia, especialmente Web 3.0 e cripto-ativos. Ela tem uma newsletter, a Citation Needed, e, adivinhem só: é editora da versão em inglês da Wikipédia há mais de 15 anos. Eis que ela publicou, em fevereiro deste ano, um vídeo chamado “Become a Wikipedian in 30 Minutes”, onde dá dicas de como dar os primeiros passos na edição de artigos. Eu assisti esse vídeo 3 dias atrás, e pra mim foi uma injeção de ânimo.
Três dias atrás, ouvindo uma música do Hozier, fui pesquisar a respeito do cantor na Wikipédia, e não é que lá dizia que o rapaz era um cautor (sic), e não cantor? Uma pequena falha de digitação. Um simples typo. Mas fiz login e arrumei a palavra. Bum. Minha quarta edição. Com a página arrumada, me senti bem, e realmente concluí que quero continuar editando. Quero ser wikipedista.
Essa vai ser uma das minhas metas pra 2025.