Daniel Santos

52 hertz

A história já é provavelmente muito conhecida, porque é contada há muitos anos. Eu, no entanto, nunca tinha ouvido falar: existe uma única baleia que canta numa frequência diferente das demais.

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Essa única baleia, descoberta em 1989, apesar de ouvir suas companheiras, canta em uma frequência de 52 hertz, o que faz com que não seja ouvida pelas outras, cujo canto alcança frequências entre 10 e 39 hertz. É como falar um idioma que ninguém consegue entender e ser a única pessoa no mundo que conhece a língua. Na prática, ela não consegue se comunicar, nem se reproduzir, e isso a torna a baleia mais solitária do mundo.

Eu não estava em nenhuma aula de biologia quando ouvi essa história. Fiquei sabendo dela durante uma palestra sobre comunicação, tema que eu adoro. A intenção de um dos palestrantes foi mostrar que, às vezes, por mais que você tente se comunicar, simplesmente não consegue.

Só que, ao contrário da baleia de 52 hertz, podemos treinar e aperfeiçoar nossa própria comunicação, até que ela fique mais eficiente: ter uma boa comunicação não é exclusividade de quem foi agraciado ao nascer com esse dom.

A palestra que assisti, apesar de ser rápida, cobriu em 90 minutos muitas coisas interessantes. Mas vou tentar resumir duas questões que achei que podem ser relevantes pra qualquer um quiser melhorar sua comunicação pessoal.

Primeiro, é preciso saber se comunicar — pois, como diria Warren Buffett, “não saber se comunicar é como piscar pra uma garota no escuro... nada acontece, basicamente”. E saber se comunicar passa pelo porquê quero comunicar, com qual propósito. Se minha comunicação tiver propósito, minha mensagem vai entregar o objetivo desejado. Senão, minha mensagem vai se perder e eu, por consequência, vou correr o risco de não ser nem ouvido, nem entendido. E se comunicar com propósito é ser direto e conciso, evitar ruídos (não usar gírias demais, ou mergulhar em jargões técnicos), construir uma história e buscar engajamento com quem estiver me ouvindo (mudando o tom de voz e demonstrando diferentes emoções enquanto se fala, por exemplo).

Segundo, sobre a história de falar em público e o medo que as pessoas têm de fazer isso, que aliás, é maior do que o medo de morrer. Eu descobri, através dos palestrantes, que aquilo que sai da nossa boca representa só 7% da comunicação que fazemos. Os outros 93% comunicamos pela nossa postura, nossos gestos, expressões faciais e emoções. Então, antes de falar em público, vale tudo pra melhorar esses aspectos: exercícios faciais e de respiração, repetição de mantras, ajeitar a postura e encaixar nossos gestuais como parte do roteiro da história que queremos comunicar.

O medo de falar em público em si, aprendi também, é bom. Com ele você se torna consciente de que vai errar, é inevitável. Mas também se dá conta de que, depois de errar, não acontece nada. Duvida? Basta notar os âncoras de telejornal ou repórteres, que entram ao vivo, erram números, palavras e até o horário, se desculpam e põem a bola pra frente. Todos somos humanos, e se eles podem errar, você e eu também podemos, e ainda vamos aprender e nos aperfeiçoar.

O que me traz de volta ao título do post, 52 hertz, para reforçar que, ao contrário da baleia que infelizmente está fadada a usar uma frequência inaudível e não ser ouvida, não importa o quanto tente, para nós, vale à pena melhorar a comunicação. Se você não consegue de uma vez, não tem problema também. Aplique a técnica do kaizen e melhore um pouquinho por dia: por exemplo, na próxima reunião em que você estiver, levante a mão e dê aquela sua ideia, ou exprima sua opinião. Afinal, não fará mal a ninguém, e fará somente bem a você.

#comunicação #português